'Em vez de desnudar os corpos, preferi desnudar o olhar', diz Almodóvar sobre 'Estranha Forma de Vida'


“É um gênero que, além de ser americano, é absolutamente masculino. Há dezenas de obras-primas, mas para mim há uma zona inexplorada, que é o desejo entre dois homens, sendo um gênero cheio de masculinidades”,
disse o cineasta espanhol em entrevista à imprensa no lançamento do curta Estranha Forma de Vida sensação do festival de Cannes.

"Eu não estava inventando nada, mas podia falar de um aspecto dos personagens que até agora não vi em nenhum faroeste.” O diretor queria fazer o primeiro westerns gay e explica a diferença para O Segredo de Brokeback Mountain: “Não são caubóis diretamente, pistoleiros. Então peguei um tema pouco tratado para trata-lo à minha maneira, sobre dois antigos caubóis que estão na meia-idade e se reencontram, recordando uma aventura 25 anos. E vemos como eles reagem diante de sua própria sexualidade e os interesses que cada um tem nesse momento, que são muito distantes de quando são muito jovens.”

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Almodóvar foi sondado, há 20 anos para dirigir o filme que acabou ficando com Ang Lee - que foi premiado como melhor diretor e rendeu ao elenco diversas indicações. Diferentemente dos filmes anteriores em que a nudez era tão protagonista quanto aos enredos, no curta ele 'preferiu desnudar o olhar'. “Em vez de desnudar os corpos, preferi desnudar o olhar e as palavras dos atores para conseguir o mesmo efeito”, disse.

O Brasil é representado na trilha sonora com a música Estranha forma de vida, na voz de Caetano Veloso, um antigo desejo do diretor espanhol. “Caetano Veloso pode cantar uma canção inteira em falsete, de maneira natural. Tem uma voz privilegiada. Ele canta esta canção e falsete, e quando ele canta assim sua voz é mais feminina. É um homem, porém sua voz tem ressonâncias muito femininas. E essa confusão que há no falsete me caía bem para a história porque, para mim, a estranha forma de vida é desses homens que vivem escondidos atrás de seus próprios desejos”, detalhes como estes podem ser conferidos em uma entrevista que o diretor dá ao final do longa.

Detalhes variados como figurino, posicionamento da câmera, obras de arte e o erotismo entre dois homens são explorados de forma fascinante. Em cena, o  pistoleiro de verde encara o xerife. “Não me olhe assim”, diz o xerife, semicerrando os olhos. “Como você quer que eu olhe para você?”, responde o pistoleiro, flertando.

Filme segue em cartaz nos cinemas e nos streaming da Mube.

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