A cada 30 horas um LGBT é assassinado no país, segundo site

Placar eletrônico do site "Homofobia Mata" neste domingo (29maio)
A cada 30 horas uma lésbica, gay, travesti ou transexual é morto no Brasil, os dados alarmantes faz parte de um site pioneiro na América Latina, que registra, denuncia e documenta virtualmente os casos de LGBTfobia no país, através de reportagens mostra a realidade cruel que seres humanos pagam, por serem “diferentes”.

Este número pode ser ainda maior, já que o site, que é administrado pelo Grupo Gay da Bahia – GGB, apresenta dados de assassinatos registrados concretamente como LGBTfóbicos, isso sem deixar de lado aqueles que sofrem com a violência verbal e física, mas que escaparam da morte. 

Em 2011 foram 267 assassinatos motivados por LGBTfobia no Brasil, um aumento de 118% em seis anos, destes 162 vítimas foram gays, 98 travestis e 7 foram lésbicas - 6 mortes a mais que o ano anterior. Em 2015 ao menos 318 assassinatos: 164 gays, 119 trans, 16 lésbicas, 10 bissexuais, 2 amantes de travestis e 7 heterossexuais confundidos com gays foram assassinados.

O Brasil é o país que mais mata transexuais no mundo, "as travestis e transexuais são as mais vitimizadas: o risco de uma 'trans' ser assassinada é 14 vezes maior que um gay. Se compararmos com os Estados Unidos as travestis brasileiras têm nove vezes mais chance de morte do que as trans estadunidenses", relata o relatório de 2015.

QUEM A HOMOFOFIA MATOU HOJE
Com um contador eletrônico que é atualizado a cada assassinato notificado, o site denuncia: "QUEM A HOMOFOFIA MATOU HOJE". Em duas semanas quando, esta reportagem começou a ser editada o número de vítimas fatais subiu de 102 mortos para 116 mortos, no dia 22 de maio. De março até maior saltou de 86 para 116 vítimas.

No dia 30 de maio de 2015 dois amigos foram confundidos com gays por se abraçarem em um bar em São Bernardo do Campo, região do Grande ABC, em São Paulo, onde estavam comemorando o aniversário de 33 anos de um deles, Gustavo Guazelli, que estava comemorando seu aniversário em um bar junto com o amigo Vanderley Pereira Pessoa, de 34 anos. Eles decidiram sair para comprar cigarros em um posto de gasolina, no posto ouviram xingamentos homofóbicos de um caminhoneiro e quando se aproximaram da cabine do caminhão foram surpreendidos com a ameaça de agressão com uma barra de ferro. Ao tentarem se defender, Guazelli se desequilibrou e foi atropelado pelas rodas traseiras do veículo. Wilson Romão Batista, de 53 anos, foi encontrado na casa da irmã, também em São Bernardo, e indiciado por homicídio qualificado consumado.

PAI E FILHO
Confundidos com homossexuais, por estarem abraçados em uma feira agropecuária, em São João da Boa Vista, no interior de São Paulo, em 2011. Sete homens se aproximaram dos dois e perguntou se eles eram gays, mesmo com a negativa, as agressões ocorreram em questão de minutos. O Pai de 42 anos levou um golpe e caiu desacordado, soube que estava sem a orelha ao acordar depois no hospital. O filho, sofreu agressões leves. Mesmo com a Lei 10.948/01, que pune crimes de ódio como a homofobia no Estado, ninguém foi preso.

Dois dias depois, a Polícia prendeu dois homens suspeitos de participar das agressões, porém o juiz Heitor Siqueira Pinto, negou a prisão de um dos suspeitos que teria confessado ser autor das agressões, o nome dos envolvidos não foi revelado.

“Este banco de dados é único na América Latina, e é a nossa militância, porque denunciamos e cobramos das autoridades Políticas Públicas para nosso povo”, disse por e-mail o presidente do GGB Marcelo Cerqueira – leia a entrevista completa  em GERALDOPOST MAGAZINE

MAPEAMENTO
Os casos de agressões verbais e físicas que os homossexuais  sofrem no dia-a-dia podem ser registrados nos sites como os sites “Tem Local?” (temlocal.com.br) e no "Mapeamento da LGBTfobia no País”, do HuffPost Brasil criado em parceria com o Curso Abril de Jornalismo em 2015. Relatos publicados pela vítima ou por uma qualquer outra pessoa que tenha presenciado um ato de homofobia, transfobia, lesbofobia e bifobia sustentam os sites.

O casal Jonathan Favari, 24 anos, e Gabriel Cruz, 23 anos, sofreram agressões físicas e verbais dentro do restaurante Japonês Sukiya, em 2014, ao trocarem uma carícia. O caso está registrado nos dois sites, em entrevista para GERALDOPOST.COM (que edita LGBTPOST), Gabriel relatou contou que ele e o namorado passaram por momentos de humilhação na delegacia, “proveniente do despreparo dos policiais para lidar com casos de agressões motivadas por LGBTfobia. Passamos cinco horas na delegacia até ter esse documento (Boletim de Ocorrência) em mãos. Os policiais a todo momento tentavam nos dissuadir de fazer o B.O."

NOME SOCIAL
Em novembro do ano passado o Governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), lançou com estardalhaço o que ele chamou de "passo importante na questão do respeito à diversidade", o campo para a inserção de "nome social" nos Boletins de Ocorrência realizados nas delegacias físicas e virtuais. A ação iria para facilitar a estatística que LGBTs, especialmente as trans, sofrem no Estado.

Em fevereiro a maquiadora Melissa Hudson (foto), 20 anos, foi agredida por um grupo de 20 transfóbicos na Rua Augusta. Melissa, que é transexual, disse que levou uma pancada na cabeça e ao cair sofreu vários golpes e xingamentos homofóbicos, porém na delegacia o nome social de Melissa não foi inserido no Boletim de Ocorrência, e o caso foi registrado como assalto: "Não foi um assalto, tanto que eu estou com minha bolsa até hoje, levaram o que tinha nela, mas por oportunidade do momento não era o objetivo principal", contou a maquiadora em entrevista exclusiva. O caso só entrou na estatística de transfobia após uma reportagem da Revista Fórum questionar o Governo do Estado sobre o assunto.

"Eles gritavam 'traveco nojento' e 'não é mulher, é traveco' toda vez que alguém tentava interceder para que parassem", relatou a maquiadora para a revista. Melissa disse que não foi maltratada na delegacia, porém "em nenhum momento" foi orientada a procurar a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância - DECRADI. A maquiadora levou um ponto na cabeça e outros dois pontos no rosto, mas a agressões não chegaram a afetar a cirurgia de feminização que fez em dezembro de 2015.

AGRESSÃO
Marcos Paulo Calixto, analista de sistema, que foi agredido dentro da boate gay Flexx Club, estava entrando no espaço Open Bar da boate, na Barra Funda, cinco minutos antes de encerrar o serviço da noite, segundo ele, “para buscar algumas bebidas”. Os seguranças o barraram dizendo que a pulseira estava adulterada e após um bate boca um segurança ao segurá-lo por trás, fraturou seu braço. 

Em entrevista ao G1, Calixto contou que um homem puxou sua pulseira a deixando larga, com a recusa de reposição da pulseira, pelo staff da casa ele teve a ideia de colocar um pedaço de chiclete na pulseira.
"Os seguranças camaradas viram com a lanterna na escada e eu ainda frequentei a noite toda o ‘Open Bar’. Existem câmeras e amigos comprovando que eu frequentei a noite a toda", relatou o rapaz através do chat do Facebook, que completou dizendo que o levaram para o estacionamento "a base de murros na cabeça". GERALDOPOST.COM entrou em contato com a boate Flexx Club através do Facebook do dono da casa noturna, André Bianchini, que não quis comentar o assunto.

Marcos ficou 10 dias afastado do trabalho e  disse que entrará com um processo contra o estabelecimento.

CUSPARADA
O deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) foi o centro das atenções no dia 18 de abril de 2016, após a cusparada que ele disparou contra o colega parlamentar Jair Bolsonaro (PSC) que disse palavras homofóbicas e xingamentos contra Jean Wyllys após o deputado votar contra a abertura do processo de impedimento de Dilma, com os xingamentos homofóbicos, a reação imediata de Wyllys foi revidar com uma cusparada.

No dia seguinte Jean Wyllys deu uma entrevista coletiva confirmando o revide e postando em seu perfil na rede social Facebook uma nota sobre o assunto, o primeiro deputado federal assumidamente homossexual foi severamente criticado, não só pelos defensores e seguidores de Bolsonaro, mas também por homossexuais.

Não é raro ver o jornalista, ex-professor e deputado federal reeleito com 144.770 votos ser atacado pelos próprios LGBTs, sendo chamado jocosamente de diversos adjetivos, como por exemplo, "bicha feia" e "afeminada", como se isso determinasse o caráter de qualquer pessoa, o deputado do PSOL enfrenta dentro da população LGBT, uma repulsa incompreensível.

Eleito o deputado mais bem avaliado pelo público no Prêmio Congresso em Foco em 2015, pela terceira vez (2013 e 2012), ficou a frente de Chico Alencar (PSOL-RJ) e Eduardo Bolsonaro (PSC-SP) que ficou em terceiro lugar.

TRANSFOBIA
Imagens de Verônica Bolina que que caiu nas redes sociais (reprodução/facebook)
Outro caso envolvendo violência transfóbica, em 2015, aconteceu com a trans Verônica Bolina, de 25 anos, que foi presa acusada de tentar matar uma idosa. Após uma confusão dentro da carceragem ela foi violentamente agredida por Policiais Militares e por Agentes de Operações Estratégicas, GOE, da Polícia Civil. Fotos com Verônica desfigurada e com os seios a mostra caíram na internet e causaram comoção nas redes sociais (FOTO), onde foi criada a hashtag #SomosTodosverônica.

Viviany Beleboni, de 28 anos, que virou símbolo da Parada do Orgulho LGBT de 2015, quando apareceu ao alto de um dos trios elétricos crucificada, sofreu ameaças nas redes sociais e foi agredida perto de sua residência em Agosto do ano passado. "Fui crucificada em ato de protesto e artístico para levar a reflexão às pessoas, ali estavam LGBTs que sofrem com humilhação, com agressão e desamparo social", disse em entrevista exclusiva para GERALDOPOSTMAGAZINE.

A manifestação de Beleboni ganhou grande repercussão a ponto dos parlamentares fazerem um protesto contra ela na Câmara dos Deputados, políticos das frentes Evangélicas, Católica e em Defesa à Vida entrarem na Câmara carregando faixas e exigindo "respeito", e rezaram o “Pai Nosso”. Para o parlamentar Rogério Rosso (PSD-DF), nas Paradas LGBTs existe uma "Cristofobia". Quase um ano depois, a mesma Câmara dos Deputados foi palco de um circo horrores, quando os parlamentares votaram sobre a continuidade do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT), 'evocando' Deus em vão.

ANORMAL É O SEU PRECONCEITO
No Programa Silvio Santos, em 8 de maio, durante o quadro Jogo dos Pontinhos, o apresentador disse que tinha assistido ao filme Carol –considerado, em março, o melhor filme gay de todos os tempos, pelo Instituto britânico de Cinema (BFI) –,  que é um filme horroroso, "um filme lésbico". Ele perguntou para os participantes Lívia Andrade, Florinda Fernandez, Carlinhos Aguiar, Cabrito Tevez, Hellen Ganzarolli e por fim Patrícia Abravanel.

Foi um festival de LGBTfobia usando os mais variados adjetivos contra o público LGBT. Porém o que mais chamou a atenção foi da apresentadora Patrícia Abravanel, e uma das herdeiras do SBT. “Eu vi em uma revista que um terço dos homens, se relacionam com as pessoas do mesmo sexo. Um terço, eu acho muito. Mesmo sem saber se a opção deles é real, eles experimentam". Ela foi indagada pelo apresentador, "Você que sabe a Bíblia de cor, tem algum trecho da Bíblia que recomenda isso, que é contra isso?".
Ela respondeu: "Calma, calma que eu não quero falar de religião, o que eu acho: eu acho que os jovens é (sic) ainda muito imaturo para afirmar o que quer. Então a gente tem que afirmar, que homem é homem, mulher é mulher, entendeu? Eu não acho que é legal, ser superliberal. Então, por exemplo, o Pedro ele é...” Ela foi interrompida pro Silvio Santos, “Quem meu neto? Meu neto não”, e ela completou, “Por isso que eu não acho legal, ficar considerando tudo super normal, entendeu? Eu acho que temos que ensinar para os jovens de hoje que homem é homem, mulher é mulher. E que se por acaso ele tiver alguma coisa dentro dele, que fale ser diferente. Aí tudo bem, O que ele está acontecendo hoje, que tudo é normal, tudo é bonito e o jovem naquela coisa de querer experimentar tudo, acaba experimentando coisa que ele pode vir eventualmente se arrepender depois, eu sou contra ficar propagando em rede nacional, que isso é uma coisa super...”. Silvio questionou novamente: "Você falou uma coisa aí, que foi uma indireta, isso aqui que estou fazendo é uma propaganda?”. Ela respondeu, "Mais ou menos, você está propagando sim. Não é uma coisa normal, hoje se eu falar que sou contra, eles vão me apedrejar. Eu não sou contra o homossexualismo (sic), eu sou contra falar que é normal. Eu vou pegar mulher agora e vou experimentar. principalmente para o adolescente. E outra, mulher com mulher não tem tanta... não é legal assim, eu acho... não tem aquele brinquedo que a gente gosta bastante, não dá pra brincar direito".

Patrícia virou o assunto mais comentado da segunda-feira, 14, e até seu sobrinho Tiago Abravanel, a questionou publicamente, através de uma foto no Instagram: "A incompreensão daquilo que pode parecer diferente, mas não é..." "Como é possível se o amor é igual pra todo?".

BICHINHA
Esta não é a primeira vez que o apresentador se envolve em uma polêmica, envolvendo preconceito contra homossexuais. No dia 10 de abril ele disse que o ator João Guilherme Ávila, parecia uma bichinha na novela Cúmplices de um Resgaste, em cartaz na própria emissora.
Na ocasião o presidente do Grupo Gay da Bahia - GGB disse que iria entrar com um processo contra o apresentador, porém recuara: “Em consideração a nossa comunidade de atores transformistas que declaram Silvio Santos como o primeiro a dar espaço a esse tipo de arte na televisão brasileira”, disse Marcelo Cerqueira.

Dois dias depois o apresentador Otaviano Costa fazer um discurso transfóbico no programa Vídeo Show. Ao entrevistar Orã Figueredo, sobre o seu atual trabalho, na novela Totalmente Demais, da Globo, Otaviano disse que "Pra quem foi casado com uma traveco, tá bem demais", se referindo ao trabalho do ator na série Tapas e beijos, que acabou no final do ano passado. Orã interpretava Tijolo e no final casou com Stephanie, interpretado por Rafael Primot.

Costa foi intensamente criticado nas redes sociais e postou um vídeo no Instagram reconhecendo o erro, porém, negando ser homofóbico."Eu emendei a brincadeira de forma ainda mais infeliz e denominando o travesti como traveco. Primeiro eu não sou preconceituoso, abomino o preconceito completamente e isto está claro na minha vida pessoal e na minha postura e opiniões já declaradas durante todas as temporadas do programa “Amor & Sexo”. O que acontece é que eu, como metrossexual e uma grande maioria das pessoas, desconhece o grandioso dicionário LGBT. E eu confesso que eu não me recordava que ‘traveco’ era uma palavra menor, era ofensiva e, acima de tudo, preconceituosa. Mil desculpas por isso. Mas me chamar de homofóbico, transfóbico ou etc com esta forma negativa e odiosa eu também não posso aceitar e não é assim que conseguiremos esta igualdade que tanto batalhamos, ao preconceito gente só o ódio já é o suficiente para quem tem e para quem sofre. Paz!".

Quando a série estava no ar o roteirista Claudio Paiva disse em entrevista ao jornal Extra que o personagem Tijolo era uma provocação à sociedade: “A ideia de fazer o Tijolo ser um cara perigoso e, ao mesmo tempo, envolvido com um travesti foi uma bela provocação. Acho que é papel da arte provocar discussões.”.

HISTÓRIA DE BICHA
O Benedito Ruy Barbosa que na festa de lançamento da novela Velho Chico disse que na sua novela não tem personagens gays "por não gostar de história de bichas", o autor foi prontamente repreendido pela filha Edmara Barbosa, co-autora da novela. Os militantes LGBTs logo propuseram um boicote à novela, que coincidência ou não amarga uma audiência baixa.
Em entrevista ao jornal O Globo, Luiz Fernando Carvalho, diretor artístico da novela, disse que "a declaração do Benedito não corresponde ao meu pensamento nem ao pensamento de toda minha equipe, incluindo aí os autores Edmara e Bruno (Luperi), além de todo o elenco".
Em entrevista a GERALDOPOSTMAGAZINE, Marcelo Cerqueira disse que "Benedito Ruy Barbosa é um reacionário, machista, homofóbico e obtém benefícios em destilar a sua homofobia".

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